sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Satisfação

a uma vida bandida
a uma velha amiga
a uma velha conclusão



Satisfez-me o estar perto
Satisfiz minhas vontades
Satisfaço as tuas, de certo

Satisfaz a tua gula
Sempre fazendo jura
Sempre dizendo quero

Suas palavras sempre satisfazem
a minha fome de você
Sempre, contudo, a vontade
de deglutir de vez

o que tens de mais belo
o que tens de mais secreto
o que tens de sensato

( e ainda não satisfará...)
( mesmo que se satisfaça...)
( não me satis-fazerá,não se...)

Sua boca não satisfaz
a minha gula de teu ato
Suave, suado, sagaz
ânsia do imediato

O imediato cheiro
sentido do hálito perto

O imediato toque
mesmo que discreto

Satis-fez-me bem
Satis-fez-me fome
Satis-fez-me teu

Satis-faça meu favor
Satis-faça minha cor
Satis-faça, amor

Satisfação do ser
satisfazendo um ser
Satistação te ver!

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Colo

O cheiro da lama, da grama, na cama.
O velho cheiro do assoalho encerado
as portas amarelas sorringentes ao me ver

o vento gelado balanga, balanga lampião
o cobertor quadriculado vermelho-azul envergonhado
as chaves todas esquecidas atrás da cortina vinho barato

tudo mesmo como sempre fora
tudo assim meio nada sem graça

Aquele frio que aquece sabe?


Nem todos tem um colo para correr.
Nem todos tem um colo para sofrer
Mas todos encontram um colo de morrer.

domingo, 15 de junho de 2008

Escatologia

O vômito tem sido meu grande companheiro.
Vomito tudo em todos sem medo do que vão pensar de mim.
Vomitei porque estava muito engasgada, e tudo o que exatamente nao poderia ter feito era vomitar em ti. Desculpe-me pela falta de jeito, mas o vinho tem desses efeitos.

De tanto vomitar, encontrei merda na porta de casa... e o cheiro que dali saia era o cheiro da podridão humana e seu velho habito de mentir, esconder, deixar para depois. Mas o depois acaba chegando de uma maneira ou outra.. seja pelo abraço, seja pelo insulto.

Chega de tudo isso.

Quero ver a lagrima em seus olhos de novo.
Quero ver o sorriso garoto de quem fica feliz com meu beijo
Quero ver tuas mãos novamente em meus cabelos.
Quero ser o cheiro que você inala
Inale-me, toque-me, coma-me, como fazias, como eram as ultimas vezes que ficamos juntos.

Mas acima de tudo, quero que sejas escatologico ao ponto de vomitar em mim meus erros, como eu vomitei em ti os teus.

Quem sabe assim conseguiríamos viver felizes de fato.....

quinta-feira, 1 de maio de 2008

Brisas...

A brisa é o anúncio do vento.
O vento, por sua vez, é o da ventania.
E esta, por sua vez, da tempestade.
A tempestade avisa a chegada do furacão.

Mas aquela borboleta que bateu as asas no Japão, cínica e imprudente, crente que teria apenas que continuar borboleteando de flor em flor, sem olhar onde nem de quem eram as flores, bateu tanto suas asinhas afoitamente que o mundo girou e ela ficou. A brisa-vento-ventania-tempestade-furacão acabou por esmagar a pobre borboletinha na parede.

E tudo que se viu foram asas.

E o homem ainda não sabe como tirar a mancha que perturba sua vista da janela.....

quarta-feira, 30 de abril de 2008

Verborragia

Ser verborrágica, estar verborrágica.

A verborragia é uma constante, e eu, como um ser metamorfosicamente inconstante volto para onde não saí, vinda de todos os lugares onde nunca estive. Falo, aqui, das coisas que nunca falei e preferi viver. Ainda talvez sobre devaneios clássicos de uma alma arcaica num corpo (já não tão) contemporâneo assim.

Vomito, choro, corro, grito, beijo, possuo, defenestro, compro, pago pra ver.
Cheiro, enlaço, cuspo, perfumo, rasgo, como, bebo, agarro,prendo, ligo a tv.

Enquanto acendo um cigarro...

O que é a "persona" de um texto senão a própria pessoa acovardada pelos padrões de comportamento e acorrentada em expectativas alheias sendo ela mesma?!

Faço dessa verborragia meu lugar. Chega de alterofagia! Viva a auto-fagia!