terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ubi sunt?

-Estão todos dormindo

estão todos deitados

dormindo

profundamente

(Manuel Bandeira)


A lona embrulha

O corpo sem vida

Protegendo da dor

Que se espalha

Se espalha...

Movimentando-se lentamente

Pelos corredores vazios

Cheios de ilusões.

Foram-se.

Se foram aos se perceberem

Ali, enrolados

Embalados a sangue

Se espalhando...

Se foram

Se foram querendo voltar

Se foram acreditando

Que não precisariam mais...

Indo assim

Não perceberam

Que o corpo não era um

Eram muitos, mil.

Eram seus sonhos

Espalhados

Enrolados

Espelhados

Lacrados a dor

Eram seus corpos

Eram os meus

Enrolados

Espalhados

Desprotegidos da dor

Espalhados no vazio

De sonhar

Pois estão todos dormindo

Todos deitados

Sonhando profundamente.

Cama de Memórias

Deitada, jazia.
Os lençóis eram os mesmos
remanescentes do todo
os mesmos sentimentos
que alí vivera.

Cansada, sonharia.
Mas o que valem são sonhos
relembranças de tudo
os mesmos enganos
que tivera alí.

De que lhe valiam
aquelas curvas tocadas
nos embalos
em lás menores?

Se tudo eram sóis maiores
que não raiariam mais
com o nascer do dia?

De que lhe valiam
aqueles toques embalados
enrolados no frio
de calores vazios?

Se das duas vidas
daquelas noites compridas
nada restaria
senão longas despedidas?

Deitada, ouvia.
Os lençóis eram os mesmos
aquecidos pelos medos
remanescentes do viver.

Cansada, viveria.
Mas o que lhe valeriam
relembranças desses cantos?
Se são os mesmos desenganos
-desencantos- que jazem alí.

domingo, 19 de setembro de 2010

Um e outro

Estávamos nós

sós

um com outro

assim

desse jeito.

As palavras iam e vinham

sem direção

ou motivo

aparente

vontade

de irem e virem

na sua mão.

Eramos sós

nós

um no outro

assim mesmo

sem muita explicação.

As vontades iam e vinham

para que ficar?

aparente

satisfação

para ir e vir

sem não.

Eramos o que somos

sem condição

aparentemente

sem coração.

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Querer

Saibas:

Quero-te

e basta.

Basta sabê-lo

e vivê-lo

basta querer-me

e ter-me-á

Basta dizer-me

e ouvir-me-á

sussurá-lo

tocá-lo.

Saibas:

Quero-me tua

e me basta

basta-me ter-te

e viver-te

basta querê-lo

e sê-lo-ei.

Basta vir-me

e ver-me-á

sentindo-te

sonhando-te.

Saibas:

possuirei-te

e me basta.

Basta-me saber-te meu

e é o que me basta

para não querer-te aqui.