domingo, 7 de março de 2010

Armários

Abra seus armários...
eu ( não) estou a....
Quando se pára de tirar a poeira
da superfície
E se abrem os armários
dos tempos e dos sentimentos
O que se encontra
ao tentar se encontrar
pode ser não a si
mas a seus alicerces
Quando se remove a sujeira profunda
de seu próprio viver
Encontra-se inesperados eus
inesperados nós
Envolvidos por muitas teias
que amarram, enlaçam, prendem.
Prendem-se a nada e a tudo que não se foi
E ao remover tudo que não se foi
dá-se conta que nada poderia ter sido
a não ser o que fora
e aquilo que fora remoido, revirado assim
às claras e as limpas
incomoda, invade a falsa septicidade
da vida que se lava
e os panos molhados não incobriram
não aliviaram
tudo aquilo que jorrou
e feriu
mais uma vez

sexta-feira, 5 de março de 2010

Sangue

Enquanto fechas os olhos
O coração bate ainda mais forte
não tentes não ver
pois assim verás o que mais te dói.
Enquanto abras a boca
os ouvidos não sabem
o que é dor, o que é cor
assim não terás o que te corrói
Enquanto fechas a porta da tua vida
O que fica de fora
é o teu querer mais de dentro,
mais temido, mais escondido
Por muitas vezes
abristes abraços,
os ouvidos às palavras,
as bocas aos beijos
os corpos aos toques
aos carinhos
aos amores
Enquanto fechastes o corpo
aos apelos dos sentimentos
Abristes um vão
que, pelo sim, pelo não
ao chão ficou
em sangue
E, pelo sangue
o perdão se fez em vida
que com o abrir dos olhos
abre o coração
em vão
em perdão
em canção